VISITE DOIS CÓRREGOS ANTES QUE SE ACABE ( 9)

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OS PÁSSAROS:

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Bateram asas e foram para onde podem se nidificar, pois a Praça Major Carlos Neves não é mais para eles. Não há praças que se prezem sem árvores de muita ramaria e sem a ramaria, não há ninhos. Lembra-me, e com saudade, da época mais risonha do nosso “jardim”, quando Pedro Perdoná era o cuidador, sem dúvida, o mais dedicado de todos os que ali mourejaram.

Para ele, não havia dia de folga e mesmo que pudesse gozá-los, gostava de fiscalizar o que acontecia, sempre vigilante. Seria justo que a cidade o tivesse na memória como um dos seus mais diletos filhos. Eu morava ali em frente e sempre trocava com ele dois dedos de prosa.

Sua alegria era a passarinhada e, para atrai-la, tornando mais alegre a praça, ia buscar quirera de arroz na máquina de Antenor Carmesini. Acontece que, certa noite de dezembro, talvez em 1959, abateu-se na cidade uma tempestade violentíssima que durou uns dez minutos, o bastante para causar destruição em massa.

Na manhã seguinte, funcionários da Prefeitura recolhiam, aos jacás, as avezinhas mortas pela violência da procela. Ao lado, Pedro Perdoná, com a voz embargada, mostrava o peso da desgraça. Correu a lenda de que S. Francisco de Assis aqui esteve para prestar homenagens póstumas aos seus irmãozinhos de penas e logo rezou para que a praça fosse repovoada em breve.

E isso aconteceu. Muitos anos depois, houve outra tempestade, esta, causada por motosserras e por escavadeiras poderosas e então as árvores que proporcionavam pouso e habitação às aves, foram erradicadas. Hoje, já não mais se encorajam em voltar. Nem mesmo as andorinhas, que vinham à cidade todos os fins de ano, não apareceram mais. As revoadas eram maravilhosas e todos saiam às ruas para apreciá-las.

Os córregos: eram dois. Com o córrego do Quincas, três. O Lajeado tem hoje a metade do que tinha. O do Quincas, nem isso. O Fundo então, é um fiozinho dágua. Tem que haver um culpado e o culpado deve ser descoberto e o Poder Público tem que agir para que se devolva a água roubada, descobrindo onde está a sonegação aos cursos que sempre nos orgulharam. Mas nada vai ser feito e, assim, os córregos também estão dizendo adeus.

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