Sobre o Hino Nacional e os ensinamentos perspicazes dos livros 

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Escrevo este pequeno texto a propósito de uma medida do Governo impondo a execução do Hino Nacional a crianças em escolas.

Vejo isso como uma simples badalação patriótica, sem mais efeitos práticos. Nada contra, pois. Eu, quando criança, participei dessas execuções musicais na escola Francisco Simões – e era um momento solene e de respeito que me coloca saudades.

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Mas, patriotismo é ir à guerra pelo seu país; correr o risco de tomar um tiro no peito, “voar para o lado escuro da morte”, e deixar esposas e filhos. Ponto.

Educação de qualidade são outras coisas.

A melhor forma de se educar integralmente crianças traz em seu germe o simbolismo das grandes estórias. Minha mãe me educou fora da escola, na base do gibi. A melhor maneira, portanto, de fazer algo pela infância está em moralizar, educar, ensinar, com estórias de grande apelo e sempre, sem parar. João Guimarães Rosa, o maior escritor do Brasil, dizia que “cada criatura é um rascunho a ser retocado sem cessar. ”

Dois livros marcaram minha vida. Dois livros interrelacionadíssimos. O primeiro, em infância, “ O Pequeno Príncipe”; poucas pessoas vão se esquecer da ilustração da cobra que engoliu a elefante. Indelevelmente épico.

O segundo, “O Apanhador no Campo de Centeio”. Marcante, idem.

Os dois tratam de pequenas-grandes jornadas. Clássicos.

Em o caso de O Pequeno Príncipe, um piloto de avião pousa num deserto e encontra uma criança alienígena, e com ela entra em diálogos extremamente profundos e metafísicos, que vão da dor ao sentido da vida, de tudo que na Filosofia está sempre pronta a enfrentar.   Com pitadas de infantilidade e nonsense, a moral é facilmente deglutida pelo leitor.

Quem está no mundo, está no mundo pra quê?

O outro livro, o “Apanhador no Campo de Centeio” também trata de jornada. Foi me apresentado pela pessoa mais inteligente que conheci na vida. Um jovem que sai de um internato para sua casa, salvo engano, viajando de trem. E conversa com algumas pessoas: a ex-namorada, uma prostituta. O enredo também tem uma mística filosófica incrível.

Ainda mais considerando que vivemos numa sociedade em que todos estamos, mais ou menos grau, para usar uma expressão inglesa: “neurotic to the bone” (neuróticos até os ossos), em uma sociedade fraturada, num contexto de “Modernidade Líquida” (expressão de Zygmunt Bauman); em que babacas são heróis e bandidos, a honra do povo.

Há ainda um outro que foi uma febre nos EUA no século XX, chamado “Pollyana”. Não li, mas conheço, um pouco da história. Uma menina na data de seu aniversario que gostaria muito de ganhar uma bicicleta, mas ganhou uma muleta. Abatidíssima, ouve a explicação de uma tia que não era para se entristecer. E que cada vez que olhasse aquela muleta lembrasse que não precisaria dela para andar e, assim, se alegrasse, dando origem ao que hoje conhecemos como “Síndrome de Poliana”, o otimismo exagerado pela vida.

Por fim, a conclusão não é outra, senão que cantar o Hino e louvar a Pátria é ato esteticamente apreciável, em se reforçando a disciplina dos alunos e outras medidas de cunho prático, mas a educação de verdade somente se opera com o incremento do imaginário profundo visando a construir um bom caráter.

 

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