Querem deserto? Então tá!

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A Amazônia é considerada pelos brasileiros como um tesouro. Mas um capital destinado a se desfazer quando for cortada a última árvore e incendiada a última gleba. Para os cientistas, ela é um tesouro muito mais valioso. O ciclo hidrológico da floresta cria mais de cinquenta por cento de sua própria precipitação pluviométrica. Mais ainda, ela contribui com a imprescindível umidade para a agricultura em todo o território nacional.

Por isso é que, em lugar de flexibilizar as licenças ambientais, é urgente manter 80% da floresta e ampliar os vazios que se multiplicam sob a conivência ou criminosa tolerância por parte do Governo.

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A teimosia em abrir estradas de rodagem é uma insensatez se a natureza está servida por leitos fluviais perfeitamente navegáveis. A utilização de toda a biodiversidade amazônica se fará de maneira muito mais sensata se houver investimento na navegação fluvial. Que servirá também para o turismo.

O mundo inteiro gostaria de conhecer a Amazônia. Mas o sonho é percorrer seus rios, conhecer seus igarapés. Não trafegar em leitos carroçáveis imperfeitos, que não suportam as chuvas fortes, que trazem imenso desconforto ao viajante.

O verdadeiro tesouro da Amazônia é conservá-la como Deus a fez e a entregou gratuitamente a uma raça dendroclasta e suicida. Sim, quem mata a mata se mata! Escolhe o suicídio, ainda que ele não seja imediato. Mas, de qualquer forma, a inviabilidade de qualquer espécie de vida está sendo apressada pela insanidade e pela “aura sacra fames”: a egoísta fome por dinheiro.

O dinheiro virá naturalmente, se a biodiversidade vier a ser aproveitada e houver incentivo à pesquisa. Não precisamos mais de cientistas estrangeiros que se apoderam de plantas nossas e as patenteiam planetariamente, sem que os habitantes da floresta possam ter acesso àquilo que gerações conhecem e fazem bom uso.

Se não houver uma reação forte das pessoas lúcidas, a ignorância continuará a prevalecer e o futuro será um deserto morto, escaldante e cruel. O que dirão as próximas gerações – se elas chegarem a nascer – examinando a nossa imprudência homicida e suicida?

Semeadores de desertos: refreai sua sanha cega enquanto é tempo!

*José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da Uninove e autor de “Ética Ambiental”, 4ª ed., RT-Thomson Reuters.

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