O que mata mais?

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Se você tivesse de responder : “O que mata mais? Cigarro ou poluição atmosférica?”. O que diria?

O jornalista Marcelo Leite, autor de “Promessas do Genoma” e “Ciência-Use com cuidado”, começa a reflexão de forma ainda mais instigante: “Quis sobre saúde: qual dos problemas prejudica mais a expectativa de vida no mundo: terrorismo e conflitos, acidentes de trânsito, falta de saneamento básico, álcool e dependência química ou tabagismo?” (FSP 25.11.2018). A resposta seria “nenhuma das anteriores”. O que mais mata é a poluição do ar, o material particulado da poeira e da fuligem. Ela é responsável pela redução de 1,8 ano na expectativa de vida, média global.

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Isso foi comprovado pela Universidade de Chicago, ora tão citada no Brasil de 2019. O tabagismo também ceifa vidas e retira 1,6 ano da média que cada criatura da espécie alcançaria, caso não fumasse.

Por incrível que pareça, o terrorismo diminui a média em apenas 22 dias, os acidentes de trânsito 4,5 meses, pouco acesso a água tratada e a esgotos recolhidos reduzem a experiência vivencial em sete meses. Álcool e droga contribuem com diminuição de onze meses. Tudo menos de quase dois anos, a mortífera poluição.

O Estado de São Paulo registra mais de onze mil mortes anuais, todas precoces, como resultado da poluição do ar. A estação medidora de Pinheiros registrou índices acima do recomendado pela OMS – 50 microgramas por metro cúbico), de forma incessante, entre 2000 e 2015.

Tais dados parecem não incomodar os responsáveis pelo controle da atmosfera, que continuam a incentivar a aquisição do veículo mais egoísta sobre a face da Terra, que é o automóvel. Permitem que continuem nas ruas automotores em péssimas condições, negligenciam na qualidade do combustível, cada vez mais poluente.

Enquanto isso, os países civilizados investem na implementação do carro autônomo, movido a eletricidade. Investe-se na energia solar. Há um aporte substancial na busca de energias limpas e de novas matrizes energéticas.

Como o resultado desta passagem pelo planeta é, inevitavelmente, o encontro com a “indesejável das gentes”, por que se preocupar se alguns vão mais cedo? Vamos continuar a empestear a atmosfera e esperar que o planeta dê um jeito nisso.

*José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, autor de “Ética Ambiental” e Presidente da Academia Paulista de Letras, gestão 2019/2020.

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