Em setembro fiz publicar, neste espaço, escrito intitulado “Moralismo arenga”, no qual tratei da cassação do vereador Alex Parente. Naquele artigo, escrevi: “Nos bastidores políticos há quem diga que a cassação de Alex é apenas um meio. O objetivo principal seria a cassação do prefeito”. Também registrei: “Comenta-se que o prefeito estaria muito bem avaliado para uma eventual sucessão ou para apoiar alguém caso não deseje continuar. Há boatos de que gente que entende de campanha eleitoral teria dito que no voto, pela situação de momento, não será possível tirá-lo da prefeitura. Então, o caminho é instaurar um processo de cassação”.
Não se passaram nem dois meses e foi protocolado na Câmara, no dia 5 último, representação pedindo a cassação do mandato do prefeito Ruy Favaro. Com Alex vereador, a oposição tinha cinco votos e a situação quatro. Com a saída de Alex, a oposição passou a ter seis votos, isto é, dois terços dos nove vereadores à Câmara Municipal. Exatamente o número mínimo de votos necessário para aprovar a cassação do mandato do chefe do Poder Executivo. Como se viu, o que foi escrito e por ninguém contestado se consolidou.
Sobreveio, porém, o inesperado. Levado o fato ao conhecimento público pelas redes sociais, houve uma revolta popular. Aconteceu praticamente uma execração da pretensão, antes mesmo dela ser apresentada oficialmente na sessão ordinária do Legislativo marcada para o dia 11 de novembro, uma segunda-feira. Nesta data, os vereadores decidiriam se receberiam ou não o pedido de abertura de processo contra o prefeito. A repulsa foi tanta, que obrigou vereadores de oposição a, por meio de vídeo, irem às redes sociais, ainda no domingo, dizerem que votariam contra o recebimento do pedido de cassação do prefeito.
Acontece que a emenda parece ter ficado pior que o soneto. Tanto na manifestação pelas redes sociais, como, na segunda-feira 11, em programa jornalístico da emissora de rádio local. Os vereadores que, nas falas, representaram o bloco oposicionista na Câmara, procuraram demonstrar que não tinham nada com a história. Que independente da pressão popular, votariam contra o recebimento da representação. Que, portanto, eram contra a instauração do processo de cassação. Que agiriam assim porque eventual cassação do prefeito traria instabilidade administrativa ao município.
O pedido de cassação foi apresentado na Câmara pelo advogado José Luiz Sangaletti, liderança do MDB. Quem conhece um tostão de bastidores políticos custa crer que Sangaletti, figura tarimbada na política local, ex-vereador e ex-presidente da Câmara, apresentaria o pedido por sua conta e risco, deflagrando uma guerra sem antes conversar com os russos e com os chineses. Não faz o menor sentido que, com a vivência política que possui, tenha perdido tempo de preparar uma minuciosa e detalhada petição jurídica, só pelo prazer de fazê-lo, simplesmente para ver o círculo político pegar fogo.
Para justificar que nada tinha a ver com o pedido, a bancada de oposição na Câmara ainda procurou dizer que o pedido de Sangaletti seria uma dissonância da própria situação. Isso porque o vice-prefeito Flávio Casonato seria ligado ao meio político no qual Sangaletti é uma liderança. Quem acompanha o momento atual da política local sabe que a situação não é bem essa. O MDB articula para ter uma candidatura própria à prefeitura ano que vem. A oposição na Câmara também tem seu candidato. Mas com o prefeito na prefeitura, com o aval que tem da população no momento, se candidato dificilmente teria adversário. Em tese, elegeria até o sucessor caso não postule a reeleição. Então, a única chance segura que os segmentos de oposição teriam seria com o prefeito fora da prefeitura. Logo, a cassação interessaria a ambos.
Até a retirada do pedido pelo próprio Sangaletti, no final da manhã da segunda-feira, leva a entendimento oposto àquele manifestado pelos vereadores. Se interpusera o pedido por sua conta e risco, para que o retiraria para melhor avaliação? Melhor avaliar o que, se fizera uma petição onde fora minucioso ao justificar seu posicionamento pela cassação? O pedido estava lá e os vereadores que votassem como quisessem, pela rejeição ou não. Ele já tinha feito o serviço. A retirada em nada mudaria o efeito negativo em relação a ele. Apenas aliviaria o peso sobre os ombros dos vereadores que, ao verem a repercussão negativa do pedido junto à população, procuravam se desvencilhar do imbróglio.
Com isso, então, a pretensão de cassar o mandato do prefeito está morta? Sim, a pelo motivo alegado na representação apresentada por Sangaletti. Mas, talvez, até traído pelo improviso, porque falando ao vivo na emissora de rádio local, o vereador Pastor Celso, ao justificar como frágil o motivo da representação de Sangaletti para pedir a cassação, deixou escapar algo assim: “até porque vem mais coisa por aí”. Isso leva a inferir que a ideia não está abandonada. Além de, no subconsciente, denunciar que Sangaletti não agira tresloucadamente, por iniciativa solo, ao pedir a cassação do prefeito, sabendo ou supondo que não encontraria guarida no Legislativo. Ou seja, não iniciaria uma guerra sem antes combinar com russos e chineses. Seja como for, graças à repulsa da população, o dito não foi feito. Ficou no quase.
Em tempo: Ah! Esse jornalista parcial (porque ocupa cargo em comissão na atual gestão municipal, mas que também exerceu cargo de livre nomeação em outras três de oposição a esta), não vai discutir o motivo do pedido de cassação? Vai sim! Mas noutro artigo, porque este já está grande demais e a motivação do pedido enseja informação clara e elucidação.
J A Voltolim