Soletrar é um bom começo

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Gostamos de copiar os americanos, mas não fazemos as melhores escolhas. A mania do “Halloween”, por exemplo, nada diz com as tradições de um país de exuberante e heterogêneo folclore. Muito mais rico do que a festa das bruxas ianques.

Deveríamos, sim, fazer com que nossas crianças aprendessem a gostar de soletrar e participassem de campeonatos como o Scripps National Spelling Bee, um concurso de soletrar que se pratica nos Estados Unidos desde 1925.

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É uma disputa saudável. Faz com que os estudantes praticamente decorem os dicionários e saibam como se escreve cada verbete neles contido. Nesta última versão, participaram 565 jovens. São como os nossos viciados em redes sociais e abreviam palavras com a desenvoltura dessa geração que já nasce com chip embutido no cérebro. Mas têm talento para se interessar também pelo vernáculo. Pelo inglês castiço. E por todas as palavras que são absorvidas pelos americanos e passam a fazer parte de seu cardápio vocabular.

Pela primeira vez, em 94 anos, os responsáveis premiaram oito candidatos que resistiram até final. Era muito difícil desempatá-los, pois mostraram desempenho excepcional. Dentre as palavras objeto de “spelling”, ou soletradas, estavam madrague, de origem francesa e significa grande lago de peixes ou cerco para capturar atum no Mediterrâneo. Gnotobiotic, palavra de origem grega, significa relativo a ou vivendo em, ou sendo um ambiente controlado, contendo um ou mais tipos de organismos. Theileriasis é uma infecção por protozoário do gênero Theileiria e omphalopsychite é aquele que olha fixamente em seu umbigo para induzir um transe místico.

Há uma tradição no torneio, que indica o favoritismo dos indianos. Eles têm facilidade em aprender a soletrar. Dentre os oito vencedores de 2019, seis têm ascendência indiana. Para disputar o certame é preciso ter dinheiro. Pois há uma taxa de mil e quinhentos dólares, aproximadamente seis mil reais, mais o custo de seis dias de hospedagem no resort, com diárias de trezentos dólares. O concurso é nacional, dura uma semana e a final é transmitida ao vivo em rede nacional pela ESPN americana.

Aprender a soletrar é um bom começo para a educação de fato engatar e produzir gerações aptas ao enfrentamento dos desafios da Quarta Revolução Industrial.

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-Graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2019-2020.

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