Moradia: pode ser bonita

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A moradia é direito social previsto na Constituição Cidadã. Há milhões de brasileiros que não têm onde morar. Há milhões morando mal. Pequenas construções abrigam número excessivo de moradores. Viu-se, com a pandemia, que esse convívio promíscuo é fator dominante na disseminação da Covid19.

Os sucessivos planos habitacionais partem de saudável inspiração, que é prover o brasileiro de um teto. Mas repetem-se na mesmice de grandes conjuntos homogêneos, casas minúsculas padronizadas e esteticamente pobres.

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Se o Brasil fosse um país com diminuta extensão territorial, compreender-se-ia a economia de solo para que as casinhas contíguas lembrassem um triste pombal. Não há um jardim, não há uma árvore, não há espaço para uma pequena horta e menos ainda para um pomar.

Incrível que o país de Niemeyer, de Ruy Ohtake, de Paulo Mendes Rocha, de Lúcio Costa, de Ariosto Mila, de Araken Martinho, se preste à sucessão de construções idênticas, que aniquilam a individualidade, embora aparentemente aptas a acolher o núcleo familiar, não contribuem para formar um ambiente digno, ecológico e, portanto, saudável.

Por isso é de se animar quem não se conforma com a falta de criatividade, a notícia de que a Tenda vai inaugurar uma fábrica de casas. Ela promete uma disrupção no modelo de construção no Brasil, com a produção de vigas, pilares, paredes e outros elementos dentro da fábrica. Ela funcionará em Jaguariúna e sua linha de produção é da sueca Randek.

Serão casas baseadas no woodframe, com uso intensivo de madeira. Esta virá de reflorestamento, custa menos do que cimento e aço e é esteticamente mais interessante do que a pobreza arquitetônica dos atuais projetos de conjuntos residenciais.

A capacidade será de dez mil residências anuais e tudo indica atrair aqueles que não se satisfazem com o singelo modelo das casinhas enfileiradas, indistintas, que não suprem o sonho da casa própria de quem precisa de um jardim, de um quintalzinho, de uma paisagem doméstica mais próxima ao bom gosto. Algo que os grandes complexos residenciais governamentais parecem ter esquecido.

 

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.

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