A Terra está enferma e nem todos se dão conta disso. É que os ouvidos para a ciência estão surdos e os olhos humanos não conseguem enxergar a tragédia que a insensatez causou ao planeta.
Poucos os que se motivam a alertar a consciência dos que se dizem racionais, quanto ao pavoroso porvir que nos espera, se nada for feito e com a urgência requerida.
Recentemente, mais de duzentas e cinquenta organizações firmaram um documento com vistas a promover a “Grande Transição” em favor da sustentabilidade e da prosperidade global. Valeram-se da advertência que a COVID-19 fez aos terráqueos: o planeta está gravemente enfermo, com a doença da poluição, mudanças climáticas, desmatamento, degradação ambiental, extinção de espécies, perda da biodiversidade e as demais comorbidades causadas pelo bicho-homem.
O paradoxal é que a humanidade é, a um tempo, a vilã – a algoz do ambiente – mas também a vítima e, de qualquer forma, a única alternativa para a solução. Só que não há mais tempo. Há quem sustente que o ponto de inflexão já passou. Mas sempre resta uma esperança.
A declaração emitida é contundente, embora não tenha produzido o alarde que seria necessário: “Nós, a comunidade global de saúde planetária, emitimos o alarme de que a deterioração contínua dos sistemas naturais de nosso planeta é um perigo claro e presente para a saúde de todas as pessoas em todos os lugares”. Chamada “Declaração de São Paulo sobre Saúde Planetária”, foi redigida em conjunto pela USP e pela Planetary Health Alliance, consórcio internacional sediado na Faculdade de Saúde Pública de Harvard, com apoio do PNUD, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Tudo converge para um porvir tenebroso, se não se tomar providência séria, consistente e imediata. A pandemia é um recado explícito: um pedido de socorro que ecoa, juntamente com tantos outros, em todo o globo. As mudanças climáticas, a perda da biodiversidade, a destruição da qualidade do ar, da água e do solo corroeram os sistemas de suporte de vida fundamentais e dos quais todos os viventes dependem.
Nenhuma possibilidade de proteger a saúde humana, se não cuidarmos também – e primeiro – da saúde da Terra. Não é apenas reflorestar, apoiar a economia circular e a logística reversa. A mudança de curso é mais ambiciosa. Precisa ser um giro completo na forma como se vive na Terra: a Grande Transição. A exigir reformas estruturais que mudarão a maneira de produzir, consumir, construir e cuidar do ambiente natural. Não faltam leis. Elas até sobram. Falta é cumpri-las. Falta é um comportamento racional. Você está preparado para isso?
*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.