PÉROLAS DANTESCAS – O DIOGO

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JOSE NELSON DANTE – Alma pura, boníssimo. Amigo dos amigos e até dos inimigos se possuía algum. Não creio. Personagem folclórico de nossa cidade. Trata-se do famoso Diogo ou simplesmente Deoclécio Rodolpho, ou ainda o Diogo do Violão.

Já falecido, exímio violonista, cantor cuja voz se identificava com a de Louis Armstrong, contador de causos e piadas. Intimo de gente poderosa e famosa no cenário empresarial e político brasileiro. Antes de falecer residia no edifício Copan em São Paulo gigantesco prédio planejado pelo engenheiro Oscar Niemeyer, onde vivem aproximadamente 5 mil pessoas, uma verdadeira cidade. Diogo era um homem espetáculo.

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Apaixonado pelas coisas simples do Brasil, pela música dos índios, capaz de chorar ao violão, cantava em voz grave, fazia mímica, imitava bichos, repetia o uivo dos selvagens e sua batida, usando os dedos na caixa do violão de cravos de ouro, que Orlando Chesini Ometo, seu grande amigo, o presenteara. Orlando era casado com a nossa conterrânea Marta de Oliveira Simões e proprietário da maior Usina de Açúcar e Álcool do Mundo a Usina da Barra.

Ia muito com o Orlando em sua fazenda entre os rios Xingu e Araguaia, com meio milhão de hectares, tamanho do Estado de Sergipe, onde Diogo fazia às vezes de secretário e enfermeiro, pois Orlando era diabético e Diogo lhe aplicava injeções. O único bem material que o Diogo possuía era umas terras no município de Avaí, vizinho de uma tribo de indígenas terena e pertinho de Bauru, também presente de Orlando Ometo. Rolim era o jovem piloto que os levava para a Amazônia. O piloto era quase que exclusivo da família Ometo.

Todos gostavam de cururu, cateretê e outras manifestações folclóricas. O nome completo do jovem piloto é Rolim Adolfo Amaro que muitos anos após criou a maior empresa aérea brasileira a TAM – Transportes Aéreos Marília.

Num dos aniversários do Diogo que foi comemorado em Dois Córregos, chegou até nossa cidade uma caravana de personalidades importantes como Olavo Setubal, dono do Itaú, Paulo Egídio Martins, que foi governador do Estado, o industrial Orlando Ometo, o dono da TAM o Comandante Rolim e outros que não me recordo, mas já dá para perceber a importância das amizades que ele nutria e nunca quis aproveitar de tal situação, o que mais engrandecia sua personalidade. Quando mudei para Curitiba, a primeira visita que recebi vinda de Dois Córregos foi do Diogo, que inesperadamente surge na entrada do escritório de meu Supermercado.

Chegou sorrindo como sempre. Disse que veio a mando do Dr. Totó Camargo, para saber como estava a família. Se não faltava nada. Na despedida disse que ele e o seu Totó iam ficar tranquilos sabendo que tudo corria bem. Foi uma visita de estimulo, evidentemente. De outra feita pouco antes de falecer troquei alguns telefonemas e correspondência com o Diogo, que fazia hemodiálise devido a problemas renais. Não mais podia viajar.

Numa de nossas conversas pediu um CD de poemas onde declamo para dar de presente ao seu grande amigo Paulo Bonfim, considerado um dos maiores poetas vivo de São Paulo. Mais um de seus ilustres contatos. Antes de encerrar quero contar que assisti a primeira apresentação do Diogão ao violão fazendo parte de um conjunto de nossa cidade.

Apresentavam-se ao vivo dentro do estúdio da Radio Cultura, sem publico só com o locutor Clineu Alves de Lima exibindo-os. Mas uma vez foi no palco do cinema lotado. Foi uma audição para a platéia do Cine São Paulo. Como ele nunca tinha enfrentado um publico ao vivo e era por demais tímido, ele se apresentou de costas para os assistentes.

Foi uma gargalhada só. Alias a gargalhada sempre o acompanhou até quando estava sofrendo com as sessões de limpeza de sangue no organismo já combalido, mas nunca perdeu o humor e fazia as enfermeiras rirem. Era um boêmio, vivia intensamente a noite madrugada adentro, mas nunca bebeu ou fumou. Vou encerrar com uma de suas frases de humor, aliás, tinha muitas: “vivo mais apertado que palito de sorvete”.

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