O lado perverso do Face

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A sociedade contemporânea resolveu escancarar-se e investir na transparência e na exibição, em detrimento da privacidade. Esta perde de lavada no cotejo com a publicidade, considerada uma virtude republicana.

As redes sociais se beneficiam dessa tendência. Proliferam os perfis disseminados e exaustivamente apregoados nos vários instrumentos de que hoje dispomos de compartilhar nossa vida, nossos hábitos, nossos gostos e preferências.

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Isso é bom? Há quem responda afirmativamente. Só existe solidão, hoje, para quem quer. Quem não quiser, arrebanha milhares de “amigos” virtuais. E fica naquela dependência que muitos já experimentamos, de verificar se chegou mensagem, se conseguimos mais um seguidor, se estamos nos tornando alguém em quem se deva prestar atenção.

O Facebook, talvez a mais conhecida via de se relacionar digitalmente, também veicula boas mensagens. Ajuda a motivar pessoas a fazerem o bem. Todavia, como quase tudo nesta vida, tem seus aspectos negativos. Um deles é o comércio ilegal de animais silvestres, que ganhou impulso com a venda virtual de espécies em extinção e outras também raras.

O IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, constatou em novembro de 2015, que a Linha Verde de sua Ouvidoria recebera 170 denúncias de venda ilegal de animais, enquanto em 2014 eram 60. Dentre as denúncias de ilegalidade perpetrada em relação à fauna, 95% provinham de anúncios no Facebook. Houve verdadeira explosão entre 2016 e 2017. Cerca de 1.300 animais foram oferecidos à venda em suas páginas, 85% dos quais em cativeiro e em 30% das hipóteses, a venda foi confirmada.

Muitos desses animais constam da Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagem em Perigo de Extinção e outros estavam sendo introduzidos no Brasil fora de sua área de ocorrência.

Reclama o IBAMA que o Facebook não se preocupa com isso. O outro lado diz que sempre colabora com as autoridades brasileiras e age imediatamente, retirando do ar páginas que são alvo de denúncia.

O mais trágico é que haja pessoas prontas a aprisionar animais que deveriam estar em liberdade. Que se servem deles para ganhar dinheiro não os considerem tão dignos de uma existência livre como outras espécies, inclusive aquela que, pretensiosamente, se autodenomina racional.

*José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente universitário, palestrante e autor de “Ética Ambiental”, 4ª ed, RT.Thomson Reuters.

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