O Infinito da Solidão

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Os dias presentes, embora fugazes, são repletos de notícias. A instantaneidade na comunicação mantém praticamente todas as pessoas reféns do último acontecimento. Não há como desligar. Um Brasil com 265 milhões de mobiles – celulares, smartphones, tablets – para 207 milhões de habitantes, evidencia bem a nossa submissão ao moto contínuo das mutações.

Uma das angústias modernas é o excesso de informação. Dados, mais dados, a verdade e a falsidade disputam nossa atenção. É impossível desligar-se.

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Ainda assim, há quem sofra com a solidão. A pior solidão é aquela vivenciada na multidão. Quem escolhe ser solitário ainda possui aquela âncora da segurança. Isolo-me porque quero. Quem não fez essa opção é um sofredor.

É preciso ensinar as pessoas ao enfrentamento da circunstância mais natural a cada ser vivente. Nasce-se sozinho. Morre-se sozinho. Mesmo nas grandes catástrofes, nas quedas de avião, nos tsunamis, nos incêndios, terremotos e outras ocorrências, cada morte é a morte individual.

O ser humano tem de se acostumar consigo mesmo. Recordar Tasso, que proclamou: “Ah! Cada ser é um astro solitário! Cada ser é um humílimo lampejo no infinito da sua solidão. Há abismos fundos entre o vão desejo de um ser e de outro … solidões vazias!”.

Espécie provida de imaginação, que Santa Teresa D’Ávila chamava de “a louca da casa”, sonha sem limites. Como dizia Cesário Verde: “A alma humana ama os grandes horizontes e tem marés de fel como um sinistro mar…”.

Romper as montanhas de silêncio e de solidão incumbe a cada qual. Há quem o não consiga sozinho e recorre à psicanálise, à terapia. São muitos os que nunca obtêm alta. Amparam-se nos profissionais, muita vez à procura de quem os ouça. É o que se verifica em muitos espaços como o Pronto Atendimento dos Hospitais: pessoas sós relatam sintomas patológicos, muita vez somatizados, porque não têm com quem conversar.

Voltemos a Sócrates: conhece-te a ti mesmo. Aprenda a saber o que o conforta e o que o angustia. E se convença de que nascemos sós, morremos sozinhos. Por isso é que este trajeto se chama peregrinação por um vale de lágrimas.

 

*José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente universitário, palestrante e autor de “Pronto Para Partir?”, 3ª. Ed., RT-Thomson

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