Cine São Paulo

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Na sexta-feira, 1 de novembro, houve o lançamento oficial do filme-documentário “Cine São Paulo”. Dirigido pelos cineastas Ricardo Martensen e Felipe Tomazelli, tem como protagonista o professor Francisco Augusto Prado Telles, o “seu Chico”. Foi uma noite memorável. A sala do Cine São Paulo, hoje Centro Cultural Nilson Prado Telles, estava lotada. O público recebeu e aplaudiu “seu Chico” e a esposa em pé. Depois de passado o filme, foi possível a quem ficou conversar com protagonista e produtores.

Ao longo da semana última o filme continuou sendo exibido praticamente todos os dias. “Cine São Paulo” conta uma história linda. É centrado na reforma do cinema, que foi interditado por ordem judicial em 2014, por não estar adaptado às normas de segurança do Corpo de Bombeiros. Para adaptar era preciso fazer uma grande transformação, a custo alto. De há muito a sala era alugada ao município para nela funcionar o Centro Cultural. Mas como o prédio é particular, a prefeitura não poderia investir no serviço.

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Bem ao contrário, como o prédio fora interditado, teve de suspender o pagamento do aluguel mensal. Por ironia do destino, naquele momento a cidade era dirigida pelo prefeito Chico Telles, filho do “seu Chico”. Não havia alternativa. Ou “seu Chico” bancava a reforma ou fim de linha. O cinema em Dois Córregos estaria definitivamente acabado. Professor aposentado, “seu Chico” tem uma vida estável, mas não é uma pessoa de grandes posses. Para custear a reforma, teria de se desfazer de um bem imóvel.

Fica claro no filme que “seu Chico” não teve o aval da esposa para o investimento. Nada de anormal. Aliás, situação muito compreensível. Afinal, a relação   custo-benefício não era nada satisfatória. Mas vingou o amor pelo cinema. Quando ele nasceu, em 1945, havia cinco anos que seu pai, Nilson Prado Telles, adquirira o cinema. Portanto, “seu Chico” nasceu e viveu dentro do cinema, como também seus filhos. O coração não permitiu que as portas fossem lacradas. Bancou a reforma.

Os cineastas Martensen e Tomazelli tiveram a felicidade de estarem no lugar certo, na hora certa. Conheciam a história do Cine São Paulo, mas quase que por acaso se lembraram dela e descobriram que o cinema passava por um momento especial. Foi a oportunidade de retratar tudo, tendo “seu Chico” como o grande protagonista. No filme, “seu Chico” não é uma personagem, mas ele próprio. Vive as angústias do dia a dia da reforma. E vai contando a história do cinema, que se funde com a da sua existência.

O longametragem é uma bela obra. Já foi exibido em vários festivais e mostras de cinema. No Brasil e no exterior. Os principais, nos Estados Unidos e na França, onde ganhou o prêmio de melhor documentário na cidade de Biarritz. Além da sala do Cine São Paulo continuar em operação, “seu Chico” conquistou outra vitória, esta certamente inesperada quando a interdição aconteceu. A história do Cine São Paulo está perpetuada para sempre, como, ele também, na condição de sua personagem principal.

Muita gente pode não entender, mas a saga de “seu Chico” para manter o cinema vivo em Dois Córregos é magistral. No mínimo o Cine São Paulo é o segundo cinema mais antigo do Brasil. Rivaliza em dias ou meses com outro de Belém, capital do Estado do Pará. Mas não é descartada a possibilidade do cinema de Dois Córregos ser o mais antigo. Ele que começou como Cinema Oeste em 1911, foi Íris Teatro na década de 1930 e se tornou Cine São Paulo a partir de 1940, nas mãos da Família Prado Telles. Uma bela história!

J A Voltolim

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