Vamos acabar com o Pantanal

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Somos bons nisso: acabamos com a Mata Atlântica, vamos chegar lá na Floresta Amazônica, o cerrado também está sendo reduzido e por que não acabar com o Pantanal Matogrossense?

Num dos raros intervalos de lucidez do governo, o Estado do Mato Grosso do Sul sancionou em janeiro de 2019 lei que impõe moratória de cinco anos à pesca do dourado. O peixe é o símbolo do Pantanal. Lembra o salmão, tanto que seu nome científico é “salminus brasiliensis”, o pequeno salmão brasileiro. O comando coíbe o embarque, transporte, comercialização, processamento e industrialização do dourado. Vale para todos: pescadores amadores, esportivos ou profissionais.

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Isso porque o dourado está desaparecendo. O turismo é uma atividade interessante, mas predadora. Em 2017, só Corumbá recebeu mais de trinta mil pescadores. É muito bonito invocar o pantanal como berçário da fauna aquática. Mas ninguém cuida de repor o que se retira com volúpia e gratuitamente da natureza.

Esse turismo deveria ter gatilhos vinculados à criação de reservas, com o funcionamento de criadouros e lugares permanentemente vedados, para que a espécie pudesse ter chance de se reproduzir.

Mas a ganância e o imediatismo é o que impera neste Brasil consumista e cada vez mais egoísta. É claro que associações de pescadores alegam arbitrariedade. Por eles, pesque-se até o último exemplar. Cuidar da reposição não é minha obrigação. Estou aqui para pescar, ou para explorar o turismo. A natureza que se dane. Pesque-se e elimine-se a espécie. Depois, tudo vira história de pescador.

É louvável a atitude da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, assim como a postura do Governador em não vetar a lei. Agora é insistir na fiscalização, na vigilância e na intransigência em relação às sanções. Porque o Brasil é a República em que há “leis que pegam e leis que não pegam”. É uma fissura do caráter brasileiro até o momento insuperável. Temos de treinar as novas gerações para que pensem no coletivo e pensem no amanhã. A era da irresponsabilidade já nos causou prejuízo superior ao que se poderia esperar de uma sociedade que se autodenomina racional.

*José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, autor de “Ética Ambiental”, docente da Uninove e Presidente da Academia Paulista de Letras 2019-2020

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