Tiro no ouvido

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É recorrente o uso da expressão “tiro no pé”, para exprimir resultado contrário ao desejado. Mas para a situação brasileira de flexibilizar a regulamentação ambiental na Amazônia, com reflexos para os demais biomas, inclusive a Mata Atlântica, o tiro será no ouvido. Será um golpe fatal na economia brasileira.

Não é de hoje que o mundo civilizado percebeu a insanidade de destruição do verde e as desastrosas consequências para todo o planeta. Se existe um tema em que a ideia arcaica e superada de soberania mostrou-se falaciosa é o ambiente. Chuva ácida não respeita fronteiras. A peste não distingue entre países “bonzinhos” e “inimigos”.

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O Brasil continua o maior produtor de commodities. Só extrairia vantagens se preservasse a natureza. É um truísmo dizer que o aproveitamento das terras abandonadas multiplicaria a produtividade do agronegócio, sem a necessidade de derrubada de uma só árvore. Ao contrário, ele ganharia compensação de carbono se restaurasse as áreas dizimadas.

A Europa acaba de aprovar novas regras para a sustentabilidade, criando o “selo verde”, com 5 metas: 1. Redução das mudanças climáticas ou adaptação a elas; 2. Uso sustentável e proteção dos recursos hídricos e marinhos; 3. Transição para a economia circular (inclusive logística reversa); 4. Prevenção e controle de poluição e 5. Proteção e restauração da biodiversidade e dos ecossistemas.

O recado implícito ao Brasil é manifesto: a produção do nosso agronegócio tem de provir de uma lavoura sustentável. Não é aquela terra subtraída à floresta e entregue a grileiros, posseiros, empreendedores que não respeitam a ecologia e que jogam por terra a longa tradição que o Brasil logrou obter há algumas décadas.

Na mesma direção a advertência de um Nobel da Paz de 2007, o brasileiro Carlos Nobre. Ao participar do Brazil Forum UK, ele afirmou que se o desmatamento continuar no ritmo de hoje, o mundo terá de conviver com uma pandemia como a da Covid19 a cada dois meses. É o preço da destruição dos ecossistemas naturais. Contra a vontade dos brasileiros, pois 90% de nossa população é contrária à destruição da Amazônia.

Só estava faltando esse campeonato para o Brasil: produtor e exportador de pandemias! Que a sensatez, a lucidez e a Justiça nos livrem disso.

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2019-2020.

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