O que eu quero para 2021

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Eu quero pouco para 2021. Primeiro, se possível, continuar vivo. Sei que vou morrer. Tenho plena consciência disso. Mas gostaria de viver mais um pouco. Ver meus netos crescerem. Ultimar algumas providências singelas, perfeitamente factíveis.

Mas também gostaria de um Brasil menos dividido. Lembro-me de que se podia caminhar pelas ruas, a qualquer hora, sem temer violência. As pessoas se cumprimentavam. Meu avô materno tirava o chapéu toda a vez que cruzava com uma pessoa. Perguntei um dia: – “Vô, você conhece essa pessoa?” E ele me respondeu: – “Preciso conhecer para cumprimentar um filho de Deus?”

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Hoje, encontra-se no elevador com seres humanos que não se dignam de proferir um “bom dia”. Caminha-se pelas ruas, esbarra-se e nem sempre se ouve um “Perdão!”. Tenho inveja da França, onde o “desolé” é rotineiro. Ainda!

Mas queria também uma vacina. Sem ela, como abraçar, chegar perto, conversar, se aproximar sem temor?

Gostaria de que o ambiente fosse bem tratado. Não me conformo com a ignorância que legitima a destruição da floresta e que procura explicações toscas e mentirosas, tudo para obter mais dinheiro. Quando o verde acabar, de que servirá a moeda?

Sei que é uma utopia, mas 2021 bem poderia ser o ano da inflexão na educação brasileira. Uma educação em plenitude, muito distante da reiteração maçante de aulas expositivas cujo conteúdo é tão mais rico e sedutor se produzido na internet. Um magistério estimulado a acompanhar o desenvolvimento individual de cada educando, orientando-o, elucidando suas dúvidas, numa tutoria carinhosa e acolhedora.

Sonho com uma Justiça mais sensível, mais humana, apta a compreender que processo, seja físico, seja digital, é drama doloroso. Ninguém procura o Judiciário para se divertir, a não ser aqueles que o instrumentalizam para finalidades completamente divorciadas do significado de Justiça.

2021 bem poderia fazer com que as consciências empedernidas dos que se valem do poder e da autoridade para atender às suas concupiscências, olhassem para os invisíveis, para os excluídos, para os desempregados, para os desalentados, para os desesperançados e fizessem algo para que eles recobrem sua dignidade.

Será muito pedir que a humanidade seja mais humana, que todos tenham consciência de que 2021 pode ser o último ano de sua existência e que, por isso, é bom valorizá-lo desde o primeiro dia, com uma nova maneira de encarar o semelhante e com mais ternura em seu coração?

Feliz 2021 para todos!

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2019-2020.   

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