Amizade: o verdadeiro capital

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Tempos sombrios como estes vivenciados durante a pandemia propiciam a redescoberta de valores às vezes negligenciados, como o da verdadeira amizade.

O assunto rendeu muitas páginas em filosofia, sociologia, psicologia, ficção, poesia e outras esferas do pensamento e foi bastante prestigiado nas sagradas escrituras.

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Recentemente, encontrei em Frei Clarêncio Neotti OFM, interessante menção ao tema. Inicia com invocação ao provérbio norte-americano: “Amigo mesmo é aquele que sabe o pior a teu respeito e assim mesmo continua a gostar de ti”. Segue com as frases contidas na Bíblia: “Quem encontra um amigo verdadeiro, encontra um tesouro”.

Dentre os conselhos bíblicos relativos à amizade, podem ser destacados: “Todos se tornam amigos de quem dá; se não tens o que dar, tens amigos”? “Numerosos são os amigos dos ricos”. De quantos pobres és amigo? “Se queres um amigo verdadeiro, procura-o na provação, porque os teus amigos na prosperidade não são amigos teus, são amigos da tua riqueza”. “O amigo verdadeiro se torna irmão na desgraça”.

Como é verdadeiro aquilo que a sapiência das escrituras sagradas nos reserva!

Quem experimentou passagens privilegiadas no curso existencial, tem exata noção do que significa estar cercado de pessoas muito prontas a servir, pródigas em elogios e agrados. Qualquer que seja a função exercida, se ela puder incorporar o favorecimento de interesses, ainda que legítimos, ela também passa a representar uma verdadeira usina de produção em série de “grandes amigos”.

Só que, como surgem, também desaparecem. Vai-se o cargo, vai-se a função, perde-se a autoridade e a debandada é a consequência natural. Onde foram parar os áulicos?

Pensadores sensíveis como Oscar Wilde aprenderam bem esse fenômeno e conseguiram traduzir em contos como o do humilde jardineiro que acreditava enxergar em Hans, o moleiro, um real amigo, o que esperar de uma aproximação baseada em interesse.

É verdade que possa existir uma espécie de torpeza bilateral. Quem espera colher reconhecimento e obter gratidão de pessoas beneficiadas, quase sempre se engana ao avaliar o caráter do seu semelhante. Se não soube repelir a falsidade que o acalentou durante o desempenho de função atrativa de interesseiros, terá agora de conviver com o que é de mais normal na vida superficial e egoística de nossa era.

Amigos certos são raros, assim como é rarefeita a prática da virtude. Quem possui um amigo, um só com que possa contar, pode-se considerar uma criatura privilegiada, um verdadeiro afortunado, detentor do único e tangível capital humano.

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.

 

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