O ufanismo culpará São Pedro. Mas a responsabilidade é humana. O governo brasileiro não investiu em pesquisa para a implementação de matrizes energéticas mais inteligentes, que não dependessem apenas da água. Um presente da natureza que os brasileiros não conseguiram preservar. Enfrenta-se hoje a mais grave crise hídrica do século e a megalópole paulista, com três grandes rios e centenas de outros cursos d’água menores, está em vias de racionamento.
Tietê, Pinheiros, Tamanduateí, foram convertidos em dinâmicos depósitos de veneno. Esgoto doméstico, resíduos químicos das indústrias, repositório de tudo aquilo que é descartado numa economia periférica, que ainda não descobriu a logística reversa. Realidade antiga no Primeiro Mundo.
Quem dependia de água deveria ter zelado pelas suas fontes. Água é produto finito. Precisa de vegetação que gere a evaporação para as nuvens, que depois se precipitam em chuva. Quando se acaba com a cobertura vegetal, interrompe-se o ciclo. O Brasil está pagando o preço de não ter conservado suas florestas. Deveria pagar em décuplo, pois o governo incentivou a derrubada, anistiou os criminosos e depois culpa conspiração internacional contra a “soberania” tupiniquim.
A salvação só pode provir do empresariado. Se sobreviveu ao desgoverno, saberá aproveitar a agenda ESG. O setor de energia não confiou na inércia governamental. Adotou os princípios ESG e hoje exibe resultados positivos em suas estratégias. Conseguem captação de recurso no mercado de capitais, a melhor ada qualidade do portfólio de projetos que são e precisarão continuar a ser cada vez mais verdes.
Com isso, reduz-se a emissão dos gases que causam o efeito-estufa, obtém-se maior transparência para que o consumidor identifique o real vilão e, se o governo não atrapalhar, em breve o milagre da diminuição de tarifas, a livre escolha do fornecedor e da fonte de energia que será contratada pelo usuário.
O interior paulista já sofre racionamento de água. O custo da adoção da monocultura e da extinção da vocação minifundiária do Estado. Os antigos sítios eram verdadeiras autarquias. Propiciavam ao pequeno agricultor e à sua família o sustento e a dignidade. No momento em que são expulsos para as periferias das grandes cidades, onde mal conseguem subsistir, sua terra é praticamente devastada e vê exaurida a sua capacidade produtiva. Por isso os vendavais, próprios do deserto, não de terras de vegetação exuberante, como um dia foi São Paulo.
Dá para entender por que a energia está tão cara?
*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.